Sonho pandêmico

A porta de entrada estava aberta. A vizinha na porta do 32. Antes dela um cachorro, pelos pretos e brancos que me fizeram pensar agora quando que eu sonho colorido. A cara do cachorro era redonda, devia ter de 6 a 8kg e as orelhas com pelos lisos. Parecia macio, fofinho. Bem peludo. Ele correu em direção ao elevador e eu impedi que ele entrasse. Porta do elevador fechada, fim do perigo do cachorrinho se perder. Levantei os olhos e a vizinha do 32 estava na porta dela. Nossas portas abertas, um mesmo hall. Nos apresentamos, mas não me lembro do seu nome. Marisa? Óculos grandes, cabelos cortados acima dos ombros, volumosos. Parecia arredondado como o cãozinho. Lembro da cor dos cabelos dela, castanhos, nem tão escuros, nem tão claros. Era simpática, falante. Usávamos máscaras. Perguntou o que eu fazia e disse que trabalhava/estudava meu projeto no apartamento. Ela entrou comigo no 31. Já não era um apartamento, estávamos numa ruazinha estreita onde só se passa a pé. Um corredor?  Muitas pessoas, a Bu estava entre elas. Muitas pessoas que, como a vizinha, eu nunca tinha visto. Era sonho, era vida que também só se lembra, mas perdendo os detalhes. As pessoas na rua eram pessoas que me habitavam. A vizinha é uma outra que me habita. Em certo momento, já estávamos mais íntimas, conversamos bastante. Ela me presenteou com um abraço. O corpo amoleceu no primeiro toque e depois tomou tônus para se desenlaçar do abraço. Ela falava que era besteira. Eu fiquei indignada, invadida. Falei que não se pode abraçar. Algumas das pessoas da rua concordaram. Ela foi abraçando mais pessoas e saí correndo com mais gente ao meu lado. Acordei. 

Pensei aqui, como voltar a sonhar e abraçar uma rua inteira. No sonho eu não corro risco. Dói demais não abraçar. Hoje, quando cheguei no apartamento eu recebi uma notícia muito triste. O zelador perdeu o filho que tinha uma doença muito grave. Eu falei para ele tantas palavras para consolar. No passado eu só sabia abraçar. Não consigo e nem quero imaginar a dor daquele homem. Ele disse que seu filho descansou. Eu disse mais alguma palavra de consolo. Penso que falei demais e depois me perguntei: Será que eu desaprendi a abraçar?