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02 May
2. Dedos, Luvas e Violão

Resolvi buscar pela casa os objetos que já viveram no apartamento que nasci. Fiz um giro rápido pelos armários e sei que tenho uma caixa de tesouros muito bem escondida, não achei. Uma caixa de madeira com coisinhas. Uma dessas coisas é uma luva de criança. Outro dia eu encontro. Eu tinha uma suspeita sobre as coisas que guardei, coisas que fazem parte da minha história de infância e adolescência. 

Tenho livros que meu pai escreveu, livro de matemática que minha avó escreveu, um terço miudinho vindo de Aparecida que a Dedé me deu, fitas K7, acho que em uma delas tem a primeira música que eu compus, Cecília Meireles que ganhei da minha mãe, Manuel Bandeira que li no cursinho. Tenho um peso de papel, presente de viagem, ganhei dos meus pais. Um vidrinho de perfume que nunca usei para não gastar. Quem me deu foi a Nicole, minha primeira professora de música (flauta doce). 

Uma coisa que me impressionou é que guardei praticamente todo o meu material de estudo de violão. O primeiro caderno de repertório, segundo caderno de repertório, livros de técnica, caderno com esquema do braço do violão. Eu poderia ter guardado tantas coisas... escolhi todo material de estudo de violão e o vidro de perfume da Nicole. 


Toco violão desde os 12 anos, mas nunca achei uma boa instrumentista. Hoje, estou mais confortável tocando. Lidei com falsas expectativas no lugar de me divertir. Ouvi vozes que diziam que o instrumento não era para mim. Coloquei o violão em algum altar sagrado e que somente algum tipo santo poderia tocar. 

Nos últimos meses, tenho lidado com o violão de uma forma mais próxima. Resolvi estudar com mais tranquilidade e esperar o tempo de florescer. Sexta aconteceu algo muito bom. Participei de um Sarau e toquei para um grupo de amigos, perto de 30 pessoas, uma música minha que sempre me deixava nervosa. Uma vez me disseram que eu componho músicas difíceis. Ontem toquei com tranquilidade e com a precisão que eu queria. Dois amigos e professores me mostraram caminhos. Fiz escolhas e toquei do meu jeito. 

Encontro agora com meus livros e cadernos de violão com alegria. Tive muitos momentos bons com o material e o violão no apartamento da minha infância. Fecho os olhos e ouço histórias daquele tempo e ouço cordas do violão. Cordas que escuto no corredor e que vibravam até hoje na pele dos meus dedos.


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