De boca aberta

O dia que eu escrevi a outra carta foi assim, ó, com a boca bem aberta e cheia de dente. Cheia de dente é coisa que minha prima falou. Assim: tira essa boca cheia de dente daí. Eu estava tentando morder o braço dela, mas ela tinha a carne dura mesmo, desisti. Sabe como que eu escrevi a carta do outro dia? Eu lambi o papel. É que eu fiz que nem a revista de ler com o pincel e água. Sabe como é? Pintei a carta com a pontinha da língua, com um tiquinho de cuspi. Apareceu um monte de letra ali. Você leu? Eu aprendi isso com a Dedé. Ela falou que quando se morde a pontinha da língua a boca enche d'água. Aposto que você está tentando fazer. Depois você me mostra se conseguiu?

Eu lembrei que o dia que fui na Vó Alzira a minha prima falou para o priminho beijar a minha boca. Eu fiquei parada esperando ele fazer o que ela falou. Ele veio e mordeu. Por isso que agora as fotos são assim, de boca aberta. Se alguma coisa acontecer vai ser água e dente. Nhac!

Eu já estava quase dormindo, mas achei melhor lembrar você. Minha mãe falou para escovar os dentes bem bonitinho pra não dar bichinho. Que bichinho come o dente? Vou dormir de boca aberta, se o bichinho aparecer eu mordo mesmo. Faz igual tá? E amanhã me conta se o bichinho foi aí na sua casa.

Xau!

2/9/2021