OU CONVERSA COM CAGE
Quais as raizes de um edifício?
Quantos andares abaixo do chão?
Quantos andares a memória fica submersa?
Qual a necessidade disso?
As raizes são profundas?
O que são 40 minutos?
O que são quilómetros de passado?
Qual o peso do presente?
Quer trocar? - o gari me perguntou. Cumplicidade, ninguém nos viu.
Perguntei se ele queria sentar, ele seguiu.
Não trocamos de lugar, trocamos bom dia, bom humor, sorrisos. Será que ele trocaria mesmo de lugar?
Sons sobrepostos, trotes dos que praticam corrida, sirenes, duas ambulâncias, caminhões, carros, trólebus, conversas, passarinhos. Passado?
Estava ali para ouvir, para ver. O que vi? O que não vi?
Nada.
Nada importa.
Nada tem que importar.
Nada tem importância.
Derreter e sumir na paisagem. Derreter em lugar nenhum.
A casca da árvore coçou meus olhos dos pés.
Os pássaros cantam nas horas que cantam. Eles só estão onde estão. O que você diria, Cage?
Eles fazem silêncio para o pio piar. O pio precisa do silêncio como o silêncio precisa do pio. Cage?
Fizeram arruaça e ninguém se importa.
Eu estava quase não me importando. Me senti arruaceira, com eles.
Não quero que importe.
Não quero atender a vontade.
Não tem volta, "se alguém está com sono, que vá dormir." diria isso, Cage.
É tudo igual mesmo sem ser. E não importa. Não tem que importar até deixar de ser. Prazer de estar onde se está. Lugar algum.
Agora.
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Ficaria mais e mais sem chegar a lugar algum.