A Maria de M grande pediu para eu ler um bilhete cheio de palavras aqui no seminário. Ela teve que sair um pouco e acho que não volta mais.
ah... eu estava esquecendo de dizer que a Dedé está dormindo e é melhor ninguém fazer barulho. E se ela roncar alto, não pode rir, tá?
Abre aspas, ela me disse para falar abre aspas e eu não entendi, mas vou ler.
Vou começar. 1... 2... e lá vai o 3.
Abre aspas.
Um dia, vírgula, sem muito se explicar, vírgula, chegou uma pandemia, ponto.
Acho que não vou ler nem vírgula nem ponto.
Num primeiro momento eu acreditei que tudo se acertaria em pouco tempo. Num segundo momento eu acreditei que nunca mais acabaria, que viveríamos isolados por mais tempo. De momento em momento eu me alimentava de incertezas.
Por conta de tantas dúvidas, eu não parei mais de criar, não parei de pensar sobre como fazer arte durante esse período. Eu sei que em certo momento percebi que era testemunha desse tempo e que dentro de mim existia a necessidade de registrar o que estávamos vivendo.
Num momento de medos e incertezas, o Núcleo retomou as atividades e me acolheu. Uma comunidade de artistas-pesquisadores que desejavam pensar suas pesquisas e continuar a contar suas histórias. O Corredor de memórias é uma dessas pesquisas.
O Corredor de Memórias é um lugar de passagem, de subjetividade, local físico, que até muito pouco tempo foi também solitário. Laboratório, casa de infância, de histórias antigas e novos afetos.
A pequena maria pode mostrar o apartamento para vocês. O resto está no blog www.corredordememórias.art.
Tudo o que foi falado hoje aqui mostra um passado e um agora, reflexo de nossa bandeira, a presença.
Pudemos tocar uns nos outros com nossas trocas virtuais, palavras amorosas, táteis.
Liberdade. Essa palavra só conhece se antes conhecer a Sonia.
Agora vou pedir para a pequena maria se despedir.
Fecha aspas.
Muito obrigada e quem quiser pode abrir microfone e boca!
Tchau!