42. Anotações, Lição de Casa e Corredor de Fora

Abro meu arquivo de anotações e as primeiras frases são:

Borrão arte e vida.

Olhar para o entorno.

Deve ter sido por aí que o prof. Junior Romanini começou a nos mostrar a proposta de suas aulas sobre a performatividade na cena contemporânea.

Não vou aqui fazer um relatório sobre a aula. Só tive vontade de passar para cá duas palavras: borrão e entorno, e também a proposta que ele apresentou, um estudo pós aula, a velha e boa amiga lição de casa.

A proposta:

Escolher um local no espaço público e colar um post-it, uma indicação que provoque o olhar para o entorno. Antes disso, ir ao local e pensar sobre o que fazer, se relacionar também com o espaço escolhido. Usar, ou não, a referência do artista Tom Lisboa, polaroides (in)visíveis. 

Eu tenho loucura pelo janelão da sala do apartamento. Sempre me recordo que eu assisti uma grande obra na avenida. Colocaram mais uma faixa para abrigar um corredor do ônibus elétrico (eu e os corredores). Mas para isso, diminuíram a ilha central da avenida, retiraram algumas árvores.

Numa das fotos da Bu, podemos ver a avenida, o corredor do trólebus e uma árvore. Tem também um borrão, pessoas que estavam atravessando a avenida. 

Imaginei essas que essas pessoas estariam atravessando a rua, para o outro lado da avenida. Imaginei que elas poderiam ler um bilhete do outro lado, mais ou menos no local assinalado na foto abaixo:

Colei a foto no bilhete. O texto é o que segue:

Bilhete

Se você está lento este bilhete,

você está olhando para baixo.

Vire o corpo de frente para a avenida.

Elevando o olhar, você encontrará uma árvore.

Do outro lado, encontrará um prédio.

A foto abaixo é de 1987,

tirada de uma das janelas

do prédio em frente.

O tempo passa e a árvore permanece,

apesar do movimento da avenida.

Depois de olhar para o entorno, me desloco. Semana que vem vou colar na calçada o bilhete acima. Vou borrar o corredor de memórias na vida na avenida. Ou o contrário.

_{*Foto do trólebus encontrada aqui.}