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13 Jun
44. Qui Nem Jiló

Converso com minha mãe, por telefone, praticamente todos os dias. Sei que a cada dia falamos mais bobices do que o normal. Deve ser para substituir a falta dos encontros de família, os cafés no fim da tarde, abraços e beijos. 

Sei que sexta, numa conversa cheia de afeto, estávamos relacionando palavras e ideias aleatórias. Esse tipo de jogo nos leva inevitavelmente para as canções. O apartamento 31 era sempre cheio de música. Ou ouvíamos ou estudávamos. Os sons do corredor são esses que escapam pelas portas ou frestas de algum quarto, sala, cozinha ou outro espaço.

Ela falou a palavra Jiló e eu não conseguia lembrar nem uma palavra da letra da música Qui Nem Jiló. Joguei no google e cheguei na versão com a Lucy Alves. Ouvimos juntas:

Depois cantei para ela. No final da canção é de praxe um laialaialaiá... a voz embargou. Falamos da preciosidade dessa letra. Ela disse da saudade que sente dos netos em sua casa e eu me lembrei de minhas avós. Ai lágrimas, derramem, mas me ajudem na pesquisa!

Abaixo a beleza das duas partes da letra, uma em oposição a outra. A parte de quem não sofreu e a parte de quem até hoje sofre:


Se a gente lembra só por lembrar

O amor que a gente um dia perdeu

Saudade inté que assim é bom

Pro cabra se convencer

Que é feliz sem saber 

Pois não sofreu


Porém se a gente vive a sonhar

Com alguém que se deseja rever

Saudade, entonce, aí é ruim

Eu tiro isso por mim

Que vivo doido a sofrer


Ai quem me dera voltar 

Pros braços do meu xodó

Saudade assim faz roer

E amarga qui nem jiló

Mas ninguém pode dizer

Que me viu triste a chorar

Saudade, o meu remédio é cantar

Saudade, o meu remédio é cantar

Qui nem jiló - Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira

Essa canção agora, ficou como hino da saudade até o fim pandemia. Mas, no meu caso, não sei se é verdade a parte que diz que ninguém me viu triste a chorar. Lembrei do Fernando Pessoa sobre o poeta fingidor. Fingi-dor?

Pra terminar só posso mandar um bilhete:

Mãe, 

saudade, 

o meu remédio é cantar!

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