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19 Jun
50. Dicionário de ideias

Em 2015, participei de uma oficina de escrita com a escritora e professora Noemi Jaffe. Eu me recordo que ela abria suas aulas com as temáticas das seis propostas para o próximo milênio do Ítalo Calvino. Um dos exercícios sugeridos era para utilizássemos os personagens de dois livros diferentes e que eles se encontrassem num lugar de um terceiro livro. Eu utilizei uma personagem do conto Felicidade Clandestina da Clarice Lispector, o menino do livro O menino no espelho do Fernando Sabino e criei uma cidade fantástica com nome de mulher como no livro Cidades Invisíveis do Italo Calvino. Também me utilizei de um quarto livro, o História de cronópios e de famas do Júlio Cortazar, mas só um elemento que não faz parte do livro, exatamente. Posso dizer que por acaso, existia um defeito no meu livro. Um erro gráfico, mas que eu acreditava que era um efeito que existia em todos os exemplares. Eu me lembro que na própria oficina, levei meu livro e me disseram que existia um defeito somente no meu livro. O defeito parecia um furo numa página, exatamente num capítulo em que o autor se referi a traças. 

Tenho procurado furos e acasos durante a pesquisa. Eu me utilizo do Dicionário Analógico para ele me ajudar nessas possíveis passagens de uma ideia a outra. Conheci o dicionário na primeira oficina que fiz com a Noemi, em 2010. É um dicionário em que pesquisamos a palavra e no lugar dele nos apresentar um significado, ele nos lança a nuvens de palavras que podem nos lançar a novas possibilidades para a escrita. 

Uma das palavras que busquei antes da última visita ao corredor foi cupim. Antes do apartamento ter piso de lajota ele tinha taco de madeira. O piso foi destruído por cupins. A lajota parece que foi assentada na semana passada. Está intacta, parece indestrutível. O piso de madeira não, ele foi consumido. Penso no piso "movediço", que vai sendo consumido, destruído. Foi real, mas parece um sonho, pesadelo, ou uma matéria ótima a ser explorada em alguma ficção. Medo também faz parte das palavras que escolhi. Numa das pontas do corredor fica o medo. Buscando no dicionário achei palavras que não sei se rio ou choro. 

Eu escrevi toda a postagem e perdi, reescrevi. Sei que muita coisa ficou diferente e agora estou morrendo de sono, a cabeça não está mais me ajudando. Deixo aqui como está e  vou dormir. Ou sonhar com traças, cupins ou medo de perder novamente o texto que escrevi aqui e perdi sem salvar. 

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