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21 Aug
97. Sábado

Nos últimos dias eu refleti sobre a memória, sobre o esquecimento, quais as memórias que interessam aos outros e o quanto a memória é pura ou quanto dela é ficção. Tenho comigo, que é sempre uma ficção, uma narrativa sobre um corpo que não existe mais, mas que deixou algo que dependendo do momento da vida faz mais ou menos ruído. 

Cada velha lembrança vem carregada de muitas novidades, nova forma de falar, uma palavra ou reflexão que amplia ou reduz aquele evento. Uma garrafa, um "drink me" da Alice? Qual o mundo (ou toca) se abre na ação da memória? 

Vou até o apartamento hoje. As memórias estão todas lá. Quais que vão se apresentar? Na semana passada, foi a Vó Alzira que se apresentou num gesto meu. Eu agarrei o braço da cadeira de balanço com força, imaginando a força das mãos de um bebê, um bebê curioso que agarra bijuterias, cabelos, argolas e parece que nunca mais vai soltar. Foi assim que agarrei os braços da cadeira. Não foi uma imitação de um gesto, foi uma força vinda do centro do corpo para sustentar agarrar. Existia uma vontade, uma vibração real, potente. Eu só precisava segurar bem forte. 

Que forças físicas são essas que ao serem acionadas soltam uma memória? Qual a potência desse nosso corpo que guarda tanta saudade nas mãos? 

*na foto, estou agarrada no relógio da Vó e de olho nos óculos da Bisa.

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